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Por Miguel Ângelo Jardim
Percorrida uma Bulgária desertificada, pontilhada, aqui e ali, por aldeias fantasmas, com estradas muito piores do que as romenas, provavelmente uma ideia precipitada, eis-nos chegados, de madrugada, à fronteira com a Turquia. Na parte Búlgara a surpresa na expressão do guarda fronteiriço ao mirar, talvez à primeira oportunidade, passaportes lusitanos. Verificação rápida e simples, não nos olvidemos que desde Janeiro do corrente ano a Bulgária integra a União Europeia. Já na zona Turca três controles sucessivos, guardas sérios, hirtos, mas cordiais.
Um episódio anedótico: um dos funcionários turcos ao contemplar a fotografia de expressão alucinada do meu companheiro de viagem sorriu abertamente, perguntando se o meu amigo sabia para onde viajava… Só compreenderiam o motivo de tal indagação se vissem a fotografia! É bem certo que naquela remota fronteira terrestre os Portugueses são uma espécie rara!
Passada a ultima inspecção deparámo-nos, de imediato, com uma gigantesca bandeira turca e uma não menos imponente mesquita. A consciência de que estávamos noutro mundo, noutra atmosfera civilizacional… Mais cerca de uma hora e meia de viagem, entrámos em Constantinopla (Istambul), por volta das seis horas e meia. Ao meu lado o meu co-viajante, dormia o que podia e como podia, eu, atentamente, observava os sinais possíveis desta inquietante e misteriosa Turquia. Desde logo uma impressão positiva, todo o trajecto foi feito numa moderna auto-estrada. Alojados nas primeiras horas num modesto hotel, bem localizado numa das zonas comerciais da parte europeia da cidade, tivemos numa primeira observação os primeiros indícios da personalidade da urbe: limpa, mais europeia do que eventualmente poderíamos pensar, mas mesmo assim com marcas singulares de uma vivência e comportamentos distintos da nossa mundividência ocidental.
Por todo o lado mesquitas, quase todas imponentes, de estilo arquitectónico Otomano, diferentes das Árabes e Iranianas (Xiitas), construídas sobre e nas bases das inumeráveis Igrejas Bizantinas, recorde-se que Bizâncio, no seu tempo, era uma cidade caracterizada pela imensa quantidade de Igrejas. Compreensível no centro espiritual e temporal da Cristandade do Oriente!
Uma lição do passado que nos serve para compreender os sinais do presente e do futuro: Igrejas que se transformam em mesquitas, onde é que isso já acontece hoje?
Continua
5 comentários so far
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A Turquia é de facto um país muito misterioso e com uma vivência muito própria.Em certo sentido admiro-os pelo seu fervor nacionalista e pela sua história, acho é que não devem, é perigoso e é errado, estarem integrados no mesmo espaço civilizacional do que nós. Aliás, se eu fosse nacionalista turco era o primeiro a não querer que isso acontecesse. Então alguma vez eu ia ser aliado com os gajos que eu ando há 500 anos a tentar subjugar?? A não ser que seja a estratégia do cavalo de Tróia, e nesse caso cabe-nos a nós destruir o cavalo antes que ele entre dentro da nossa casa.
Comentar por Rui Paulino Abril 28, 2007 @ 5:18 pmCiertamente Turquía tuvo siempre una gran vinculación con Europa, pero desde fuera de Europa, a partir de 1453. No nos son totalmente ajenos, pero en modo alguno son “nosotros”. Desde luego estoy en contra de que sea miembro de Europa, pero debería ser un socio muy cercano, con privilegios en su relación con Europa y partcipante en algunos foros Europeos (el más serio que se me ocurre de los actuales es Eurovisión) pero no miembro.
Comentar por Pepin Abril 29, 2007 @ 4:23 pmDe cualquier forma nosotros los europeos necesitaríamos un Mustafá Kemal…
Relato delicioso. Cá espero ansiosamente por mais. ;)
Abraços.
Comentar por Afonso Lima Abril 30, 2007 @ 12:33 pmCompltamente de acordo, amigos Rui Paulino e Pepin!
Sao mais duas ou tres partes…amigo Afonso Lima.
Abraco a todos.
Miguel
Comentar por Miazuria Maio 2, 2007 @ 7:59 amOnde se veem aqueles barquinhos, em geral sao taxis (a serio!), para a outra margem, come-se um bom peixe grelhado e a um bom preco!
Saudacoes
Comentar por Miazuria Maio 2, 2007 @ 8:09 am